Um dos assuntos que tem tomado espaço na mídia em geral são os bebês Reborn, bonecas hiper-realistas que possuem aparência, peso e tamanho parecidos com os de um bebê recém-nascido de verdade, que chegam a custar até R$ 15 mil. Tendo em vista a proporção que elas têm tomado na vida de pessoas adultas, a reportagem do Jornal Regional ouviu a psicóloga/psicanalista Juliana Carla Nogueira Mandarini, que há 17 anos exerce a profissão, para falar um pouco sobre o assunto. Veja a entrevista completa:
1- Você pode explicar para a gente o que são os bebês Reborn e por que eles têm se tornado tão populares?
Pelo pouco que sei, são bonecos ou brinquedos que se parecem muito com bebês reais, são feitos artesanalmente e com características bem especificas como peso, cabelo e coloração de olhos , enfim, para serem o mais parecidos possível com um bebê de verdade.
Agora a segunda parte desta pergunta que se refere à popularidade, eu proponho pensarmos: em um dia muitos nunca tinham ouvido falar de bebês Reborn e no outro, só se fala disso? Será mesmo que a grande maioria das pessoas tem feito uso deste objeto da maneira que tem sido exposto ou estes casos se referem à casos específicos, alguns casos?
2- Quais são os principais motivos que levam algumas pessoas a se interessarem por esses bonecos tão realistas?
Antes de toda esta popularidade, o que eu sei é que estas bonecas são usadas por crianças para brincar, viver suas fantasias, usar sua imaginação, o que na infância é natural e muito bem vindo para o desenvolvimento psíquico e emocional infantil: o brincar, o faz de conta, usar a imaginação, criar uma brincadeira. Me trazia um certo questionamento o fato de muitas vezes os pais mandarem fazer estas bonecas para darem a suas filhas ou filhos com as características da própria criança quando esta era bebê. Isso me chamou a atenção e eu pensava em que isto estava para estes pais? Mas foram pensamentos, reflexões minhas, antes de toda esta popularidade.
3- Como a relação das pessoas com os bebês Reborn pode afetar a saúde emocional delas?
Na minha opinião, não é o brinquedo que afeta a saúde mental destas pessoas, eu acredito que na verdade o uso que uma pessoa faz deste boneco é que pode dar sinais de como está a sua saúde emocional. Penso que o lugar que esse objeto ocupa na vida de alguém, é que pode dizer se esta pessoa está ou não em sofrimento.
4- 4. Existem benefícios ou riscos associados ao uso desses bonecos, especialmente para quem os vê como uma forma de companhia?
Se este boneco está no lugar de uma companhia, se é visto, vivido pela pessoa como um bebê real e vivo, essa pessoa ela está dando sinais claros de grande sofrimento, que pode estar vinculados à traumas ou processos de elaboração de luto. Essa pessoa precisa de acolhimento familiar e precisa ser encaminhada para cuidados profissionais.
6- Como os familiares ou amigos podem entender e apoiar alguém que tem uma forte ligação com esses bonecos?
Essa “forte ligação” como você diz, pode sim estar demonstrando um sofrimento, um processo psíquico de dor não elaborada. Acredito que a família deve acolher, ajudar e nunca ridicularizar a pessoa ou suas ações pois como disse, ela está demonstrando estar em grande sofrimento, ela precisa de ajuda.
Se a família perceber no uso deste objeto o excesso, o isolamento, ou comprometimento no cotidiano desta pessoa, é importante oferecer acolhimento, conversar com respeito e buscar ajuda profissional para esta pessoa o quanto antes.
7- Quais cuidados ou orientações você daria para quem está pensando em adquirir um bebê Reborn ou já tem um?
Esse é um ponto que fiquei pensando: com tanta popularidade, provavelmente o consumo destes bebês deve ter crescido muito… seria coincidência? Não acredito!
É sempre importante se perguntar sobre os motivos pelos quais você compra algo, investe em algo ou precisa de algo. Deve-se se perguntar e autoanalisar.
Talvez estas perguntas, promovam as reflexões necessárias para quem pensa em comprar.
8 – Para finalizar, qual é a sua opinião sobre o impacto emocional e psicológico dessa relação com os bebês Reborn na vida das pessoas?
Na minha opinião diante do que temos visto sendo reportado, eu posso estar enganada, mas eu acredito que estes casos de pessoas se relacionando com os bebês Reborn como se fossem bebês reais, esses casos que como eu descrevi acima que demonstram grande sofrimento psíquico e que precisam de cuidados profissionais, eu acredito fazer parte de uma minoria de casos.
Eu acredito que a grande maioria das pessoas que usam esses bonecos são crianças e os usam como brinquedos que exercendo sua criatividade e imaginação próprios do brincar. Penso ainda que se adultos ou mulheres adultas fazem uso deste objeto como brinquedo ou item de coleção, o que também me parece se tratar de uma minoria, não estaria este uso talvez muito próximo ou em um lugar muito parecido com outros brinquedos colecionados há tempos também por alguns adultos, como os carrinhos de miniatura, por exemplo.